domingo, 26 de julho de 2009


Fundação luta pela preservação do babaçu

Projetos de lei são criados onde há maior número de palmeiras de babaçu, alertando para sua importância

Juazeiro do Norte. Um trabalho que envolve desde o desenvolvimento da tecnologia para o melhor aproveitamento do coco babaçu à luta pela preservação dos palmeirais e o desenvolvimento econômico sustentável das comunidades que trabalham com o produto. O projeto vem sendo trabalhado desde 2005 pela Fundação Mussambê, em Juazeiro do Norte. Também se estende, com tecnologia desenvolvida na própria região, dos maquinários, para os estados do Piauí e Maranhão, onde já foram instaladas várias agroindústrias em parceria com associações de comunidades desses estados.

Com a finalidade de garantir a preservação desses palmeirais na região, a Fundação tem incentivado, nos municípios da região, onde estão as maiores reservas, a criação e aprovação de projetos de lei que inibam a queima, principalmente em cerâmicas da região, do coco, que vem auxiliando dezenas de famílias economicamente, com o extrativismo do produto, não só para extração do óleo, mas, também, para o aproveitamento de vários componentes, como a fibra, que pode ser aproveitada até na indústria automobilística, artesanato, entre outras opções.

Dois municípios da região já contam com o projeto de lei que trata da preservação das áreas e do produto, que são Crato e Barbalha. Estão sendo pleiteadas aprovações nos municípios de Juazeiro e Missão Velha. Em todas essas localidades há desenvolvimento de atividades seja na extração do óleo comestível ou na produção de artesanato e artefatos a partir da fibra. A Fundação também conta com a parceria do Instituo Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), já que são palmeiras que estão nas áreas de encosta da Área de Preservação Ambiental (APA) da Floresta Nacional do Araripe.

As atividades pela preservação do coco babaçu vem acontecendo desde o início da criação da entidade, há quase cinco anos. Segundo o coordenador do Núcleo Agrário da Fundação Mussambê, Erisvaldo Figueredo, a idéia veio a partir de um trabalho de consultoria junto ao Sebrae, em que se verificou que o babaçu está sendo comercializado inteiro, para alimentar o fogo das cerâmicas, deixando de ser aproveitado economicamente por comunidades da região.

Erisvaldo diz que apenas 7% do babaçu é o amêndoa (endocarpo). Vem também o amido (mesocarpo), 25%, e a fibra, que corresponde a 55%. A preocupação maior era possibilitar uma maneira para que esse produto, desperdiçado pela maneira rudimentar de exploração, fosse melhor aproveitado. O pensamento inicial foi desenvolver tecnologia apropriada para o corte do babaçu. Junto com a forma de corte, há o aproveitamento até estético, para a confecção de brincos, colares, cinto e jogo americano, a exemplo do trabalho artesanal desenvolvido pelas mulheres no Sítio Macaúba, em Barbalha, por meio de uma integração promovida por associação local.

Nas Guaribas, no Crato, mais de 20 famílias são beneficiadas com agroindústria, na comunidade de Campo Alegre. Mais uma agroindústria está sendo instalada em comunidade da Batateira. Em Barbalha, a comunidade do Sítio Correntinho, tem a tradição de extração do óleo, utilizando na cozinha e na produção de sabão. O resultado comercial desse trabalho fica na própria região, mas há possibilidade de expansão, diz Erisvaldo, a partir dos projetos desenvolvidos junto às comunidades a expansão das agroindústrias.

As máquinas possibilitam o corte do coco e retirada de todo o material aproveitável, como a amêndoa, o amido e a fibra, e há outra apropriada para a prensa da amêndoa e extração do óleo. O coordenador cita a boa aceitação da tecnologia criada na região, já que no Estado há muitas áreas com palmeirais. Em Marabá e no Pará a implantação das novas tecnologias de extrativismo será feita por meio da Ematerce.

O babaçu não é considerada planta medicinal, como o pequi, por exemplo. Esta pode ser uma das razões para que não haja um despertar para maiores pesquisas sobre a planta, de acordo com Erisvaldo. “O óleo babaçu é mais comestível, não tem propriedades medicinais estudadas”, diz ele, ao acrescentar a importância econômica para as comunidades do entorno da Chapada do Araripe.

Os palmeirais normalmente se formam em áreas que já foram devastadas. Nesses locais há o predomínio dessas árvores. Na área urbana do município do Crato, há um local denominado pela população de palmeiral, que dá um diferencial a paisagem do município, além de arborizar a cidade. Atualmente, conforme dados da Fundação, estão preservados cerca de seis hectares de área com babaçuais. Isso, de acordo com Erisvaldo, corresponde a 60% do que restou das palmeiras de babaçu.

Somente nos municípios de Missão Velha, Jardim, Barbalha e Crato, são cerca de 2 mil famílias sobrevivendo a partir da extração do babaçu. E a conservação da exploração economicamente sustentável dessas famílias é uma das grandes preocupações da entidade.

A idéia de incentivar a criação dos projetos de lei municipal é justamente garantir que o coco seja aproveitado e tenha o seu papel social, além de ser impedida a derrubada das árvores. A Fundação também dá continuidade ao aprimoramento do maquinário, possibilitando mais tecnologia. A unidade a ser criada na Batateira funcionará como ponto de referência para intercâmbio tecnológico. A produção do maquinário para entidade foi iniciada por Gilberto Batista.

Elizângela Santos
Repórter


FONTE: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=657234

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